É um documento pequeno, não passando de 28 páginas, mas que em breve poderá desestabilizar uma das relações mais estratégicas do Oriente Médio: a aliança entre a Arábia Saudita e os Estados Unidos. Essas páginas se encontram em algum lugar do subsolo do Congresso, em Washington, no fundo de um cofre. Não se sabe com precisão qual o conteúdo, que poderá vir a público dentro de algumas semanas, deteriorando um pouco mais o clima já tempestuoso entre Riad e Washington.
A relação entre a Casa Branca e os Saoud está em fase de desencanto. O casamento começou em fevereiro de 1945, quando Franklin Roosevelt e o rei Abdel Aziz al-Saoud travaram uma sólida união "de interesses": os Estados Unidos garantiriam a segurança do reino, que por sua vez garantiria seu abastecimento em petróleo. Setenta anos depois, foi tudo por água abaixo.
Graças ao xisto betuminoso, os americanos estão menos dependentes do que nunca do petróleo do golfo. Barack Obama tem dado langorosos sinais ao Irã, a potência regional rival da Arábia Saudita, e Riad acusa os Estados Unidos de estarem deixando a República Islâmica do Irã estender sua influência sobre o Oriente Médio através de seus aliados árabes, como o regime de Bashar al-Assad em Damasco, o Hezbollah libanês, o governo xiita em Bagdá e as milícias houthis no Iêmen.
Grande mal-estar Os Saoud se sentem traídos. A última visita do presidente americano a Riad, no final de abril, não dissipou esse grande mal-estar. A bem dizer, é algo que começou antes, muito antes do "traidor" Obama. Foi no dia 12 de setembro de 2001, quando Washington, após os atentados de 11 de setembro, anunciou a seguinte notícia: 15 dos 19 terroristas eram sauditas. Começava o caso das 28 páginas.
Pouco após o ataque mais mortífero já perpetrado nos Estados Unidos, com quase 3 mil mortos, o Congresso formou uma comissão de investigação, encarregada de determinar as responsabilidades internas e externas. Seu relatório de 838 páginas foi publicado em julho de 2004. A comissão confirmou a "assinatura" da Al Qaeda: a organização de Bin Laden, então abrigado no Afeganistão dos talibãs, de fato havia sido o mentor dos atentados. A comissão absolveu o Irã e o Iraque de qualquer responsabilidade.
Mas e a Arábia Saudita? Afinal, os 15 sauditas foram educados com a versão saudita do islamismo, sendo alimentados desde pequenos com o wahabismo, uma escola de ódio a todas as outras religiões. Haveria uma responsabilidade por parte de Riad? A comissão concluiu que não havia "nenhuma prova de que o governo saudita, na condição de instituição, ou que oficiais sauditas de alto escalão, na condição de indivíduos", tivessem financiado ou apoiado o ataque de 11 de setembro de 2001.
Muito bem. E o que dizer de uma eventual responsabilidade saudita de "baixo escalão"? Não se sabe. A pedido do presidente Bush, as 28 páginas seguintes foram censuradas. Mas hoje, mais do que nunca, as famílias das vítimas estão exigindo a publicação desse capítulo. Já o Congresso está preparando uma lei que autoriza um cidadão americano a processar na Justiça um governo estrangeiro. Riad não aceitou isso nada bem. Obama, cauteloso, acaba de informar que ele vetaria esse texto.