Lile Corrêa*
O cônsul do Brasil, Vitor Hugo Irigaray fez um comunicado público aos estudantes de medicina que estudam em Pedro Juan Caballero.
Venho, pela segunda vez, em menos de 15 dias à Líder FM, tratar de assuntos acadêmicos. A primeira, na semana passada, para orientar os futuros estudantes de medicina em Pedro Juan Caballero. Hoje, novamente, para me solidarizar com aqueles estudantes que vieram de tão longe, alguns de mais de 4 mil quilômetros, para se inscrever em curso de medicina em universidade da vizinha Pedro Juan, sem sucesso.
Vejo que minhas admoestações, nos dez mandamentos que o estudante brasileiro na fronteira deve, ou deveria observar, para poder se radicar em Pedro Juan Caballero, não foram levadas a sério. Um dos mandamentos diz que o candidato brasileiro deve procurar imediatamente o Consulado após apresentar-se ao Serviço de Imigração. Fizeram o contrário. Esse não era o caminho imediato a seguir. O candidato para inscrever-se em uma Universidade deve, em primeiro lugar, conhece-la e estar em dia com sua situação migratória. Deve estar legal no país. Deve ler o regulamento, buscar informações outras. Deve ligar para o CONES, MEC, ANEAES, que são os órgãos do Estado que regulam as Universidades no país, para depois de consolidadas todas essas informações, fazer a sua escolha.
Enfim, cada um é responsável pela faculdade que elege. Se escolheu A ou B ou C é porque tem motivos próprios ,mais que convincentes, para matricular-se.
Estou acompanhando com muita atenção o desenrolar dos acontecimentos na Uninorte. Passei discretamente pela rua onde está situada e pude ver pessoas ali amontoadas, dias e dias, esperando o momento de matricular-se. O Jornal Nacional deu destaque a essa procura, bem como divulgou informações sobre a Universidade.
São pessoas que vieram do Pará, Amapá, Maranhão, Piauí, Bahia, Acre...etc, há milhares de quilometros daqui, como disse acima. Pois bem, essas pessoas, brasileiras, como você e eu, não tiveram a sorte da matrícula. Segundo denúncias na imprensa e testemunhos de candidados, foram ludibriadas, enganadas, expostas ao escárnio e humilhação.
Sinto-me na obrigação, como Cônsul do Brasil nesta instável fronteira, de ser solidário com todos vocês. Fiquei estarrecido e, ao mesmo tempo, revoltado com os depoimentos, que me tocaram fundo. São jovens cheio de sonhos, de entusiasmo, que vêm ao Paraguai para estudar.
O relato de um candidato diz que (abro aspas) "após seis dias acampados e quatro horas na fila, apenas 28 brasileiros conseguiram fazer a matrícula no sábado e ainda assim só quem tinha até R$ 5 mil no bolso para pagar pela vaga. Quem tinha dinheiro nem precisava ficar na fila, era só procurar um contato da Universidade e fazer a inscrição" (fecho aspas).
E quem são esses atravessadores? Escutei alguns audios, o que de certa forma dá sinais de que existe um esquema, nos termos da denúncia. E, segundo os próprios candidatos, as vagas seriam oferecidas por outros estudantes de medicina.
Num dos audios, já se oferece vaga para 2019. Como podem esses nossos compatriotas, estudantes de medicina, supostamente pessoas de bem, futuros médicos,se venderem por tão pouco? Como pôde você atuar dessa forma contra seus futuros pares? Como pôde você, atravessador, receber esse dinheiro suado de pais, que não medem esforços para realizar o sonho dos filhos; de mãos calejadas pelo trabalho duro, quem sabe de sol a sol; de mães verdureiras, costureiras, domésticas...sem ter um mínimo de remorso? Você, mercenário da última hora, está fadado a levar consigo esse peso na consciência e com certeza a maldição de Hipócrates,. porque a partir do momento em que você pisa o solo sagrado de uma faculdade de medicina, você está se comprometendo com a profissão que irá exercer. Nós repudiamos esse comportamento mesquinho e imoral, e nos envergonhamos.
Não queremos tecer juízo algum sobre as denúncias, até porque essas denúncias devem ser apuradas, mas apenas chamar a atenção dos responsáveis pela UNINORTE para que apresentem à Comunidade estudantil brasileira , as explicações que o caso requer, principalmente ao Consulado do Brasil, sempre atento aos acontecimentos na vida dos estudantes. Diante de tantas acusações, necessitamos ouvir uma palavra dos dirigentes da UNINORTE, para que essa Escola possa voltar a ter, sob os olhos daqueles que a procuram, a credibilidade de que até então era merecedora.
Devo informar aos queridos estudantes e candidatos, que a matéria amplamente publicada pela imprensa brasileira, foi dada a conhecer à Secretaria de Estado das Relações Exteriores do Brasil, o Itamaraty, e ao Diretor-Geral de Universidades e Institutos Superiores em Assunção, com o pedido de que fosse levada ao conhecimento do Ministro e Vice-Ministro da Educação, ao CONES e à ANEAES.
Os cidadãos brasileiros que, de alguma forma, foram lesados devem procurar o Consulado do Brasil e apresentar, por escrito, suas queixas. Por que por escrito? Porque, como são muitos os casos, fica difícil guardar todos os detalhes.
Eu quero aproveitar as ondas da Líder FM, ouvida neste momento em todo o Brasil, e também no Paraguai, para fazer um apelo a todas as Universidades de medicina de Pedro Juan Caballero. Senhores Reitores, Decanos, Administradores, Professores...respeitem os universitários brasileiros que aqui vieram para estudar e trazer progresso a essa cidade. São muitas e diárias as reclamações e críticas ao tratamento dado aos nossos nacionais por parte de algumas dessas instituições. Não se esqueçam de são esses universitários que mantém vivas essas instituições, hoje aproximadamente com quase ou mais de dez mil universitários.
Vamos melhorar esse relacionamento com os alunos. Vamos melhorar a qualidade de ensino. Vamos ser mais rigorosos no controle de presença não apenas dos alunos, mas também dos professores. Sejam os Senhores amigos daqueles que lhes estendem a mão e não pedras no meio de seus caminhos.
Alunos, respeitem seus professores. Respeitem o nome da Escola que lhes dá acolhida. Caminhem juntos. Vamos caminhar juntos.
Somente através de um diálogo construtivo e franco é que poderemos transformar esta fronteira em polo universitário de qualidade, confirmando, assim, os laços de amizade e de cooperação que unem o Brasil ao Paraguai.
Legenda: Lile Correa entrevista Consul do Brasil, Vitor Hugo Irigaray - Foto Matheus Correa