Disco com sambas de 2018 indica que Mocidade e Portela são bicampeãs...
30/11/2017 05:29 em NOVIDADES

Por controvertida decisão da Liga Independente das Escolas de Samba do Rio de Janeiro, anunciada pela Liesa em 5 de abril, a Mocidade Independente de Padre Miguel passou a dividir com a Portela o título de Campeã do Carnaval do Rio de Janeiro neste ano de 2017. A julgar pela audição do disco com os sambas de enredo do Carnaval carioca de 2018, produzido pela Gravadora Escola de Samba e lançado nesta última semana de novembro de 2017 com distribuição da Universal Music, Mocidade e Portela terão que se contentar em dividir outro título na folia carioca, o de escolas donas dos dois melhores sambas da irregular safra fluminense de 2018.


A rigor, são delas os dois únicos grandes sambas dentre os 13 reunidos no disco Sambas de enredo 2018. Ouvido na voz do cantor Wander Pires, o samba Namastê… A estrela que habita em mim saúda a que existe em você ostenta bela melodia, perfeitamente entrosada com a letra que versa sobre a cultura indiana no Brasil. Com samba sobre a força do povo nordestino, de refrão empolgante, De repente de lá pra cá e dirrepente de cá pra lá..., cantado por Gilsinho, a Portela surpreende e – mesmo sem gerar obra-prima como o samba com que a Mangueira abordou o mesmo tema no Carnaval de 2002 – e fica no mesmo alto nível da Mocidade, ainda que o samba da escola de Padre Miguel seja o único que tenha uma real centelha de originalidade na composição.


E por falar em Mangueira, o samba Com dinheiro ou sem dinheiro... não faz jus aos elogios que vem colhendo por conta do sagaz enredo crítico criado pelo carnavalesco Leandro Vieira como resposta às atitudes redutoras tomadas pelo atual prefeito do Rio para minimizar a força do Carnaval carioca. Ao menos na gravação do disco, puxada por Ciganerey com a adesão de Péricles, o samba resulta apático. Como a maioria dos sambas dos últimos Carnavais, aliás.


Nem é o caso de fazer comparação com a fase de ouro do samba-enredo como gênero musical – período que atravessa as décadas de 1960, 1970 e 1980. Afinal, mudou o Carnaval e, como consequência, mudou também o samba-enredo. O que mais tem se ouvido nos últimos Carnavais é samba-marcha como o fraco espécime da Grande Rio, Vai para o trono ou não vai?, cujo enredo celebra a alegria tropicalista do apresentador de TV Abelardo Barbosa (1917 – 1988), o Chacrinha, homenageado 30 anos após ter saído de cena.


A questão é que escolas que já legaram grandes sambas para o Carnaval fluminense, como Beija-Flor de Nilopólis e Imperatriz Leopoldinense, apresentam para 2018 sambas muito aquém dos históricos das agremiações, embora ambos estejam na média (baixa) do disco. A Beija-Flor aposta em enredo pautado por crítica social, Monstro é aquele que não sabe amar. Os filhos abandonados da pátria que os pariu, cantado pelo resistente Neguinho da Beija-Flor. A Imperatriz apresenta Uma noite no Museu Nacional.


Já a Unidos da Tijuca corre por fora e celebra o ator, escritor e apresentador carioca Miguel Falabella com Um coração urbano – Miguel, o arcanjo das artes saúda o povo e pede passagem, samba de refrão e pegada tão popular quanto o enredo. Samba que soa caloroso já no disco, com a chama que, na gravação, também ilumina o bom samba do Salgueiro, Senhora dos ventres do mundo, introduzido no disco pela cantora e atriz Zezé Motta.


Em contrapartida, falta tempero em Brasil bom de boca, samba da União da Ilha do Governador, assim como falta inspiração em Corra que o futuro vem aí!, um dos sambas mais fracos da história da Unidos da Vila Isabel. O Império Serrano, que volta ao Grupo Especial do Carnaval do Rio após oito anos no secundário Grupo de Acesso, também decepciona com O império do samba na rota da China, samba sobre a milenar cultura chinesa cuja letra também saúda a volta da escola do bairro de Madureira à elite do Carnaval carioca.


Enfim, o disco Sambas de enredo 2018 apresenta safra similar à dos anos anteriores. Nem melhor nem pior, na média. Mesmo com um ou outro samba que sobressaia (no caso, os de Mocidade e Portela, seguidos de perto pelo samba do Salgueiro), o disco confirma a permanente queda na qualidade de um gênero que, em antigos Carnavais, tinha força para sobreviver além dos quatro dias de folia. (Cotação: * * 1/2)


(Crédito da imagem: capa do disco Sambas de enredo 2018)

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