Cantora de 27 anos lança seu sexto disco nesta sexta-feira, com reclamações de mesa de bar em álbum que começa poluído, mas vai ficando leve e colante.
Sabe quando você enche a cara e começa a falar mal dos outros? Então, o sexto disco da Taylor Swift pode ser (rasteiramente) assim resumido.
Citando drinques e parecendo estar escorada em uma mesa de boteco em vários trechos de seu novo álbum, lançado nesta sexta-feira (10), a cantora americana de 27 anos meio que divide o disco em dois:
A tal nova Taylor, anunciada no primeiro single, que veio dizer verdades. E faz isso ao som de um pop mais sujo, poluído. Uma coisa meio Avril Lavigne fazendo pop eletrônico revolts contra desafetos como Kayne West e Calvin Harris.
A Taylor que amamos. Que versa sobre os tempos de Tinder, redes sociais, rotina corrida, com descrições apuradas e tal. Ao som de pop leve, colante. Mas mais madurinho.
Mas por que dar tanta atenção ao que ela tem a dizer? A resposta vai além do talento. Taylor vendeu 10 milhões de cópias de "1989" (33 milhões na carreira) e é das poucas a peitar a indústria do streaming. Este novo disco não sairá direto no Spotify, Deezer etc.
Quer ouvir "Reputation" agora? O jeito é gastar US$ 10,90 no iTunes ou correr para uma loja (tem CD normal, deluxe e mais duas versões com revistas, letras "escritas a mão" e outros mimos).
Das 15 músicas, "End Game" é a única com participações: Ed Sheeran e Future. É quase uma "We are the world" do recalque.
Taylor basicamente se diz melhor que as "outras", que sentem saudades de caras. Ela seria imune a isso. Os três atacam de rappers e Future (surpresa!) é o que se sai melhor. Ela diz ter "grandes inimigos" e resume, no finalzinho: "Eu não amo o drama, ele é que me ama".
"...Ready for It?", "Don't Blame Me" e "I Did Something Bad" também representam a nova fase. Repare a letra dessa: "Eu nunca confiei em um narcisista / Mas eles me amam / Então toco/brinco com eles como se fossem um violino / E tudo fica tão fááácil".
A coisa começa a ficar menos tensa a partir de "Delicate". Nela, Tay mostra que ainda há um pouco daquela ex-estrelinha country com cara de "Que que eu estou fazendo aqui neste palco, galera?".
O começo autotunado de "Delicate" dá pistas falsas: o negócio aqui é pop de batidinhas leves e letra com o que ela sabe fazer de melhor. Em vez de reclamar e bancar a nova Taylor mauzona, ela descreve cenas, pessoas, conta uma história. Ainda bem.
"Look What You Made Me Do", o tal primeiro single, já mostrava o caminho a ser seguido: sutileza não é o forte por aqui. Há samples da canadense Peaches ("Operate" estava no filme "Meninas Malvadas") e o refrão toma emprestadas as batidas de "I'm too sexy", do Right Said Fraid.
"Getaway Car" e "Gorgeous" poderiam estar em "1989". As duas têm refrões saltitantes e letras mais bobinhas alegres, sem o clima pesado que domina o disco.
"Eu acho que vou ficar em casa com meus gatos / Sozinha / A não ser que você venha para cá / Você é tão lindo", cantarola em "Gorgeous".
E a partir daí, as sirenes estridentes de antes ficam fofinhas ("This Is Why We Can't Have Nice Things") e carranca vira risinhos irônicos na pista de dança ("Dance with our hands tight").
Dividido entre a nova e a velha Taylor, "Reputation" é menos conceitual e diferentão do que se podia imaginar. Não tem o mesmo impacto de "1989", mas ainda escancara o talento dela. Mesmo que ela esteja com discurso mais afiado do que afinado.