O consumidor brasileiro é bombardeado sempre com estímulos para comprar, muitas vezes com ofertas de necessidades artificiais, que não precisamos verdadeiramente. A propaganda para consumir nos cerca a todo momento e lugar e quer, inclusive, invadir o sossego de nossos lares com ligações 24 horas por dia de grandes empresas (curiosamente, os mesmo litigantes profissionais que entopem a Justiça com ações, lesando consumidores) fazendo “ofertas espetaculares”. São instituições financeiras, companhias de telefonia celular, empresas de internet, empresas aéreas, entre outras. Uma das estratégias de marketing utilizadas por esses grandes fornecedores para legalmente “tomar o seu dinheiro” é, literalmente, mexer nas suas emoções. Por quê? Porque eles sabem que se suas emoções forem balançadas, você terá mais dificuldade de raciocinar se uma determinada compra será realmente boa para você ou não. E aqui não estou falando do simples exagero, mas da vontade de fazer uma venda para o consumidor, mesmo que isso o prejudique. Segundo Laura Lake, algumas empresas fazem o consumidor sentir que precisa de certo produto para se sentir melhor, ou aparentar, de determinada maneira. No final, porém, o ponto verdadeiro é que as empresas fazem as pessoas quererem o produto, mesmo que verdadeiramente não precisem dele. E como isso pode ser conseguido? Tentando fazer o consumidor confundir desejos com necessidades. Assim, ele não racionaliza direito e acaba fazendo uma compra mal feita. Imagine que qualquer compra assim já te dá um certo grau de prejuízo, mas contabilize, então, isso ao longo de uma vida inteira. Não há fortuna que se sustente com isso no longo prazo. É o que acontece quando você entra numa concessionária para comprar um carro pequeno e o vendedor fica tentando te forçar a comprar um maior - e que nem te serve tão bem. Ou o profissional de telemarketing que fica te ligando o tempo todo para que você compre um “pacote de dados” fantástico, que curiosamente só será ofertado naquele momento, etc. Fique atento, pois, em muitos casos, as pessoas ficam focadas em ganhar mais dinheiro e se esquecem de defendê-lo nas pequenas coisas, diariamente, desses “abutres financeiros”. Não deixe nenhum vendedor te confundir em qualquer compra. Desejo é uma coisa e necessidade é outra. Não aceite apelo emocional, como “você merece isso”, “sua família vai adorar”, “todo mundo está comprando”. Exija sempre um prazo mínimo para refletir. Peça que enviem a “oferta fantástica” por e-mail - coisa que raramente eles o farão. Não caia em “necessidades artificiais”, pois essas estratégias buscam apenas tomar o seu dinheiro sem trazer nenhum valor novo e efetivo para a sua vida. Avalie sempre e separe os seus desejos das suas necessidades. Você pode ter o que deseja, mas isso não pode comprometer as suas necessidades reais e verdadeiras. (*) Lélio Braga Calhau é promotor de Justiça de defesa do consumidor do Ministério Público de Minas Gerais. Graduado em Psicologia pela Univale, é mestre em Direito do Estado e Cidadania pela UFG-RJ, palestrante e coordenador do site e do Podcast "Educação Financeira para Todos".