Em depoimento ao juiz federal Sergio Moro na tarde desta sexta-feira (24), em Curitiba (PR), o ex-senador sul-mato-grossense Delcídio do Amaral revelou que a cobrança de propinas em CPIs (Comissões Parlamentares de Inquérito) para que pessoas não fossem convocadas eram costantes em Brasília (DF). Delcídio, que era filiado ao PT, foi cassado pelo Senado, em maio deste ano, após ser flagrado em gravações telefônicas negociando o silêncio do ex-executivo da Petrobras, Nestor Cerveró, além da fuga dele do país. As gravações foram feitas pelo filho de Cerveró, que fez acordo de delação premiada.
Como perdeu o mandato, o ex-senador acusado de tentar obstruir o trabalho da Justiça na Operação Lava Jato também perdeu o foro privilegiado por ser parlamentar. Com isso, a análise dos processos dele foram remetidas do STF (Supremo Tribunal Federal) à Justiça Federal do Paraná, onde a Lava Jato começou a ser analisada.
Depoimento - No depoimento de hoje, Delcídio - que falou como testemunha de processo contra o ex-senador Gim Argello - admitiu que durante a CPI da Petrobras, em 2014, Argello e outros membros, entre eles o deputado federal Marco Maia e o ex-senador Vital do Rêgo, cobraram para não convocar empreiteiros.
"Tive, através de Júlio Camargo (Toyo Setal) e Ricardo Pessoa (UTC), a informação de que eles estavam negociando com membros da CPI formas de se evitar a aprovação de requerimentos para suas convocações. Eles se mostraram, num primeiro momento, revoltados com a situação. Mas depois, infelizmente, acabaram aceitando", declarou, segundo o Paraná Portal.
Além disso, Delcídio disse existir também negociações anteriores a essas para que os empresários fizessem doações em campanhas para evitar serem alvos de CPIs. O sul-mato-grossense também revelou que tais fatos já eram de conhecimento de muitos no Senado. "A gente ouvia intensamente", disse, sobre as cobranças de propinas.