Por Carol Prado, G1
Entre o sertanejo e o forró, um dilema: qual a música da festa de São João? Na polêmica que envolve uma das comemorações mais tradicionais do Nordeste e artistas dos dois gêneros, César Menotti, da dupla com Fabiano - considerada uma das pioneiras do sertanejo universitário no Brasil -, defende seu lado:
"Quando a gente começou, só os medalhões do sertanejo tocavam no Nordeste. Hoje, há muitas duplas novas. O Nordeste se abriu muito para a música sertaneja, assim como Wesley Safadão e Xand [do Aviões do Forró] viraram artistas procurados no Sul e Sudeste."
Há alguns anos, a briga ressurge todo mês de junho. Em estados como Sergipe, Bahia, Pernambuco e Paraíba, as tradicionais farras juninas sempre estiveram relacionadas ao forró, mas recentemente assistiram a uma invasão dos sertanejos - que hoje dominam as festas do interior quase tanto quanto as paradas de sucessos.
A campanha "Devolva meu São João" foi criada na internet contra o que os adeptos chamam de descaracterização do São João. Na última semana, Elba Ramalho se tornou uma das protagonistas do debate ao pedir, em um show em São Paulo, equilíbrio na programação junina. "A grade não pode ser 18 sertanejos e dois forrozeiros. Não é a festa do peão". E a disputa esquentou quando Marília Mendonça decidiu se envolver: “Vai ter sertanejo no São João, sim. Quem quer é o público", bradou durante apresentação em Recife.
"Não sei se isso chega ao público ou se é coisa de artista. A nós, não chega, estamos alheios a isso", diz Menotti. "Elba é um ícone para nós. Quando a gente sobe no palco, é com todo respeito à cultura nordestina. Estudamos para ter respaldo nos lugares que vamos."
A dupla em show em Nova Lima (MG) (Foto: Reprodução/Facebook/César Menotti e Fabiano)
Se hoje domina as festas de São João - e todo o resto da indústria musical no país - é porque o sertanejo soube se fortalecer. Para Menotti, conta a "questão da identificação". "Não há ninguém que não tenha um parente sertanejo", explica. Mas também a união entre os artistas:
"No sertanejo, é muito comum os artistas novos serem acolhidos pelos mais velhos. Não vejo isso no rock, por exemplo. Às vezes tem até rejeição."
"Alguns artistas dão canjas nos shows de outros, abrem as apresentações... Acho que isso têm funcionado muito bem, não só para a existência da música, mas também nesse tempo de crise do país, em que é difícil fazer as festas. Fomenta um mercado", acrescenta o músico, que lembra ter sido ajudado pela dupla João Bosco e Vinicius nos primeiros anos de estrada. "Eles tocavam muito no Mato Grosso do Sul e nós, em Minas Gerais. Então começamos a fazer shows juntos. Algumas pessoas iam por nossa causa, e outras por causa deles."
Luan Santana participa da gravação do DVD 'Memórias II', de César Menotti e Fabiano, em São Paulo (Foto: Reprodução/Facebook/César Menotti e Fabiano)
No fim deste mês, Menotti e Fabiano lançam o DVD “Memórias II”, segundo projeto de uma fase retrô da dupla que dura desde 2015, ano em que saiu "Memórias Anos 80 & 90". Os dois trabalhos têm releituras de clássicos do sertanejo que marcaram a vida dos dois. Depois de regravarem hits como "Talismã" (Leandro e Leonardo), "Nuvem de Lágrimas" (Chitãozinho e Xororó) e "Ainda ontem chorei de saudade" (João Mineiro e Marciano), a nova compilação traz canções menos conhecidas:
"O difícil foi evitar canções que já haviam sido muito exploradas, muito regravadas. 'Evidências', por exemplo", conta. "É um trabalho alheio à questão comercial. Nós não podemos deixar de olhar para a memória da nossa música."
No novo repertório, estão "Solidão" (Milionário e José Rico), "Estrada do amor" (Althair e Alexandre), "Fogão de lenha" (Chitãozinho e Xororó), "Poeira da estrada" (João Paulo e Daniel), entre outras. Gravado em novembro do ano passado em São Paulo, o DVD tem participações de Luan Santana, Maiara e Maraísa, Zezé Di Camargo e Luciano, Roberta Miranda e outros.