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PIB 2022: entre janeiro e setembro, mercado revisou de 0,3% para 2,4% a expectativa de crescimento da economia brasileira
ECONOMIA
Publicado em 23/09/2022

Para professor de economia da UnB Jorge Madeira Nogueira, analistas subestimaram capacidade de recuperação da economia pós-Covid-19. Retomada do setor de serviços, do mercado de trabalho e elevação dos investimentos estão entre os motivos para melhoria das projeções para o PIB deste ano

 

Após a divulgação do resultado do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil no segundo trimestre do ano pelo IBGE, o mercado aumentou para 2,4% a expectativa de crescimento da economia do país em 2022. A revisão para cima do PIB chama atenção pela análise das instituições financeiras, que no primeiro Boletim Focus do ano projetavam uma alta contida, de 0,28%. 

Para o Ministério da Economia, a estimativa de crescimento do PIB para 2022 era de 2,1% em novembro do ano passado, mas caiu para 1,5% em março deste ano. Agora em setembro foi revisada para 2,7%. Mas, afinal, o que contribuiu para que as projeções em torno do PIB superassem as expectativas? 

Segundo Jorge Madeira Nogueira, professor de Economia da Universidade de Brasília (UnB), os analistas do mercado financeiro subestimaram a capacidade de recuperação da atividade econômica do país após a pandemia da Covid-19. “O que o verdadeiro mercado, que é quem produz e quem compra, nos disse foi: ‘analistas, vocês não estão entendendo o que está acontecendo. Nós que somos os ofertantes e demandantes têm muito mais a oferecer ao longo de 2022 do que vocês estão dizendo’,” avalia. 

“O que mudou é que nós percebemos que essa economia, quando não atrapalham, tem um dinamismo muito maior do que muitos fariseus com e sem diploma de economia costumam dizer. A sociedade brasileira está mostrando que nós ainda precisamos estudar para entender essa brilhante retomada”, completa. 

Na visão da Secretaria de Política Econômica, as projeções dos analistas de mercado para o PIB de 2022 têm melhorado com frequência por causa de três fatores, principalmente: a recuperação do setor de serviços e do mercado de trabalho; e os investimentos. 

Serviços, emprego e investimentos

Responsável por quase 70% do PIB brasileiro, o setor de serviços acumula alta de 4,3% no PIB entre junho do ano passado e junho deste ano. A recuperação do setor, um dos mais afetados pelas medidas de restrição impostas durante a pandemia da Covid-19, impulsiona a economia, explica Rodrigo Leite, professor de Finanças e Controle Gerencial do Instituto Coppead de Administração da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). 

“Quando o setor de serviços aumenta, ele puxa bastante o PIB. Há um aumento do setor de serviços agora com todos os locais sem nenhum tipo de restrição devido à pandemia e aí você tem um aumento de turismo, bares, restaurantes e, com isso, você tem também uma recuperação econômica”, avalia. 

Isso se reflete, por exemplo, no mercado de trabalho. Nos primeiros sete meses do ano, o país gerou mais de 1,5 milhão de empregos, de acordo com o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). O setor de serviços foi responsável por mais da metade das vagas: 874.203, ao todo. 

A taxa de desemprego no trimestre encerrado em julho foi de 9,1%, a menor desde o fim de 2015, de acordo com o IBGE. 

Na opinião do professor, outros dois fatores contribuem para a revisão para cima do PIB esperado para este ano. São eles a redução do preço dos combustíveis, consequência da limitação das alíquotas de ICMS sobre esses produtos, e a injeção de dinheiro na economia com a ampliação do Auxílio Brasil. Essas medidas incentivaram o consumo das famílias, acredita Rodrigo. Segundo o IBGE, o consumo das famílias cresceu 3,7% no primeiro semestre deste ano. 

Os investimentos, por sua vez, cresceram 4,7% no segundo trimestre na comparação com o trimestre anterior. A taxa de investimento chegou a 18,7% do PIB, a maior para um segundo trimestre desde 2014. 

Indústria

O crescimento de 1,2% do PIB do país no segundo trimestre, surpreendente para parte dos especialistas, foi puxado principalmente pelo desempenho da indústria, que cresceu 2,2%, o melhor resultado entre todos os setores da economia. A indústria responde por mais de 20% do PIB brasileiro.

Para representantes do setor, a alta no consumo, a geração de emprego e a elevação dos investimentos contribuíram para o desempenho do setor, que também contou com a melhoria no acesso a matérias-primas e redução do custo da energia. 

“Eu acho [que o crescimento da indústria] foi o efeito da redução do preço da energia, tanto da energia dos combustíveis fósseis, quanto da energia elétrica. Isso para a indústria faz com que ela aumente a produtividade e aí você tem esse aumento bastante representativo da indústria”, avalia Rodrigo Leite. 

Agro

Mesmo com os problemas climáticos que afetaram a safra no início do ano, a agropecuária cresceu 0,5% no segundo trimestre de 2022. Segundo levantamento mais recente da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a safra de grãos 2021/2022 está estimada em 271,2 milhões de toneladas. Se confirmada a projeção, a produção do agronegócio será recorde desde o início da série histórica. 



Fonte: Brasil 61

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