Tal aparato empresarial é perceptível pelos anúncios (feitos antes do início do show) do aplicativo do cantor e da loja oficial que comercializa via webcamisetas, canecas, almofadas e livros, entre outros produtos com a marca do artista. Sim, Luan Santana é uma marca de sucesso na indústria da música e é esse sucesso que o cantor celebra em X com a pirotecnia hi-tech que havia sido descartada no show anterior de clima acústico.
Mesmo que o toque da sanfona posto em músicas como Cê topa (Luan Santana, Douglas Cezar, Caco Nogueira e Dudu Borges, 2013) e Eu, você, o mar e ela (Luan Santana, Dudu Borges e Douglas César, 2016) remeta sutilmente ao universo sertanejo ao qual o artista foi associado no início da carreira, Luan é em essência um cantor pop romântico que dá voz calorosa a apaixonadas baladas, beneficiado pela fina estampa de galã da música.
A reiteração de declarações de amor ao público majoritariamente feminino – prática tão reincidente que dilui a coesão do show na segunda metade da apresentação – sublinha o posicionamento do artista no mercado comum da música humana. Mas não há marketing capaz de forjar a comunhão entre artista e público como a vista ontem no palco da casa de shows na primeira das duas apresentações cariocas do show X (a segunda acontece hoje, 29 de abril).
Cantor e compositor que vem mostrando talento crescente, Luan parece ter chegado a um ponto de razoável maturação desde o bom álbum 1977(Som Livre, 2016), lançado há dois anos com músicas como Dia, lugar e hora (Luan Santana e Douglas Santana, 2016) e Estaca zero (Breno César, Márcia Araújo, Vinicius Peres, Diego Monteiro e Caio César, 2016), ambas devidamente incluídas no roteiro retrospectivo.
No palco, Luan arma todo um jogo de sedução e de cena. É capaz de listar nome de fãs presentes na plateia com a mesma naturalidade com que atira o violão ao backstage no meio da canção Tudo que você quiser(Matheus Aleixo e Felipe Oliver, 2013). Contudo, acima de qualquer jogo de cena, paira a força de canções românticas como a recém-lançada 2050, petardo certeiro da lavra do compositor Bruno Caliman disparado por Luan em março deste ano de 2018, às vésperas da estreia nacional do show da turnê X (Caliman também é o autor de outra canção apaixonada do roteiro, Te esperando, lançada por Luan em EP de 2013).
Para o público que as canta a plenos pulmões, com o incentivo e a cumplicidade do cantor, essas baladas parecem surtir mais efeito do que a estrutura hi-tech do cenário centralizado na imagem de máscara gigante, de arquitetura romana, posicionada ao centro do palco. Em tamanho evidentemente reduzido, essa máscara aparece nos rostos dos músicos da banda que ajudam o cantor a tentar variar os matizes de músicas de similares tons românticos.
Se Escreve aí (Bruno Caliman, Luan Santana, Douglas Cezar e Dudu Borges, 2015) é introduzida por toque heavy de guitarra roqueira, Amar não é pecado (Márcia Araújo, Marco Aurélio, Fred e Gustavo, 2011) é reapresentada no formato voz & teclados. Sem falar na criação de bloco (quase) acústico para propiciar o revival de músicas do início da carreira de Luan, caso de Meteoro (Sorocaba, 2009), composição que impulsionou a trajetória do cantor rumo ao sucesso nacional.
Luan Santana na estreia carioca do show 'X' (Foto: Divulgação / Glaucon Fernandes)