"O amor é tudo que sobrou". Tem como ser mais Bono? A novidade aqui é um vocal de apoio cheio de Auto-Tune vindo do além, como se fosse a voz de Deus. Ou melhor, como se fosse o Kanye West de "My Beautiful Dark Twisted Fantasy". Os teclados e o tom épico também anunciam que o flerte com o punk rock do disco anterior passou.
Essa é mais forte e direta, e até remete ao "Joshua Tree", disco de 1987 que o U2 tocou na turnê anterior a este lançamento. Quem brilha aqui é a guitarra de The Edge. Já Bono escorrega para uma frase de efeito meio autoajuda, meio Engenheiros do Hawaii: "Free yourself to be yourself (Liberte-se para ser você mesmo)" - ainda por cima, repetida de "Iris", do disco anterior.
3 - "You're the Best Thing About Me"
O primeiro single do disco é o que se espera do U2 dos anos 2000. E também dos produtores Ryan Tedder, Steve Lillywhite e Jacknife Lee: um rock com cara de alternativo que na verdade não é tão alternativo assim. Nessa, Bono faz uma declaração de amor mais elegante: "Quando você é tão bonita / A dor no seu rosto não aparece".
4 -"Get Out of Your Own Way"
Eles usam uma estratégia cada vez mais comum para atrair o ouvinte afoito do streaming: começam direto com o (bom) refrão. Já o final desta música e o começo da próxima têm versos do rapper Kendrick Lamar. O encontro já tinha aparecido no disco dele, na faixa "XXX." - melhor do que as duas juntas do U2.
Além dos versos de Kendrick, essa faixa tem o refrão com a voz de Bono que foi aproveitado em "XXX.". A letra, com referências políticas sobre os EUA e sobre refugiados, é uma das melhores deste disco - pena que perde a surpresa e parece repetida por ter aparecido no disco do rapper.
A guitarra dedilhada no início e o título da música ("Verão do amor") enganam. Aqui aparece a parte soturna que justifica a decisão da banda de adiar o lançamento do disco por, entre outros motivos, refletir sobre o mundo pós-eleição de Trump. A letra fala sobre buscar "o verão" em tempos difíceis e faz referência ao "litoral oeste". Mas não se trata da ensolarada e feliz Califórnia, e sim ao Mediterrâneo, rota de fuga dos refugiados sírios.
U2 lança 'Songs of experience' (Foto: Divulgação)
Uma para agradar aos fãs "de raiz" da banda abrindo o "lado b" do disco. A guitarra simples e o baixo pulsante finalmente lembram da origem pós-punk do U2. O vocal de Bono com eco cantando "no, no, no" remete a "Sunday bloody sunday".
8 - "The Showman (Little More Better)"
Bom riff sem muita distorção ou efeitos. Melodia inspirada, com várias partes complementares sem serem óbvias. Bono autoirônico como nos anos 90 ("Cantores choram por qualquer coisa" (...) Eu tenho autoestima baixa o sifuciente para me levar onde eu quero"). Arranjo menos pomposo e mais seco. Minha preferida. Talvez não seja single, mas é o melhor que o U2 tem a oferecer.
9 - "The Little Things That Give You Away"
Outra música que engana no início. A bateria eletrônica suave e o título ("As pequenas coisas que te entregam") indicam uma canção de amor. Mas Bono parece falar com um inimigo, e chega a uma conclusão sinistra: "Às vezes o fim não está chegando / O fim já chegou". Essa não é para jogar a mãozinha para o alto no show.
Uma balada simpática e bem menos expansiva que os singles. Bonita, mas nada excepcional. A letra mais íntima dá um alívio por fugir da pregação e por falar de amor com um ponto de vista curioso: "Eu nunca vou saber o que poetas famintos queriam dizer / Porque quando eu estava falido, você sempre pagou o aluguel".
Essa música já era conhecida, e teve o vídeo lançado no final de agosto. Fala sobre queda da democracia e critica indiretamente Trump. É uma das mais marcadas pelo esforço deles em serem "contemporâneos". Fica parecendo que eles estão copiando as bandas que copiaram o U2, como o Killers.
12 -"Love Is Bigger Than Anything in Its Way"
Lembra da balada mais sutil, três faixas atrás, que não era para jogar a mãozinha para o alto no show? Essa é. E ainda tem aquelas colagens com a voz super modificada, que virou moda depois que o Jack Ü produziu Justin Bieber.
13 - "13 (There Is a Light)"
A faixa de encerramento retoma o estilo das baladas de "Joshua Tree", com um toque gospel. O U2 nunca exigiu de Bono muitos malabarismos vocais, mas é preciso dar o crédito a ele pela voz que continua em cima aos 57 anos. É sua força que segura essa música, quase toda só com com piano, cordas e percussão ao fundo.