O funkeiro, que faz shows em casas noturnas onde ingressos chegam a custar mais de R$ 300, lembra-se de algumas situações nas quais sentiu um preconceito velado.
"Às vezes, eu vou num restaurante chique e percebo que a outra mesa não está te olhando com carinho. Está te olhando e pensando: 'O que esse cara está fazendo aí, cheio de tatuagem, novão. Eu estou com tantos anos de vida, trabalhei para estar aqui, sou dono de empresa e esse cara está aqui'. Você vê que esse preconceito rola", diz.
Com roupas de grife, correntes chamativas e bebidas caras, ele posa para fotos ao lado de astros do esporte, como o jogador de futebol Neymar e o surfista Gabriel Medina. O cantor é um dos nomes mais importantes do funk ostentação, que traz letras de uma vida de luxo e excessos.
Mas o MC conta que também era alvo de preconceito mesmo antes de iniciar sua carreira, há oito anos.
"Quando não estava bem e tinha 15 anos, me lembro diversas vezes de que entrei em ônibus, no centro de Osasco (onde morava) e em vários lugares onde não era tratado como ser humano", diz.
Por outro lado, ressalva que muitas pessoas que o tratavam com desdém antes da fama, mudaram o tratamento nos últimos anos.
"Quando você está com uma roupa feia, numa má condição, pessoas te olham e te tratam como um animal, um inseto. E quando você está bem as pessoas te tratam como ser humano. E eu vi esses dois lados", diz o funkeiro.
Objetificação das mulheres
Em um momento em que há uma grande campanha contra atitudes machistas na internet, MC Guimê conta que já recebeu diversas críticas por "tratar mulheres como objeto" em suas músicas.
Em "Plaquê de 100", que acumula 75 milhões de visualizações no YouTube, ele canta: "Contando os plaquês de 100 dentro de um Citroën, nóis convida (sic) porque sabe que elas vêm".
O funkeiro rebate as críticas dizendo que sua intenção é a de elogiar as mulheres.
"(Essa) é uma visão muito fechada, porque a nossa ideia acaba sendo exaltar. Do mesmo jeito que a gente coloca que a gente tá tirando uma onda, que a festa está linda, que a nossa vida é linda, as mulheres estão do nosso lado. Nunca fui um cara de falar algo para desmerecer a mulher", diz.
Ele nega ser machista. "Eu nunca fui um cara assim. O cara que vai para a balada pode ter R$ 10 milhões no bolso, mas se ele não estiver com umas minas ao redor dele, não estará feliz. A nossa música fala sobre essa verdade".
O funkeiro já disse algumas vezes que usa maconha, mas recentemente passou a evitar o assunto. Em entrevista à BBC Brasil, ele voltou a defender a legalização do uso da erva e compará-la com o cigarro e bebidas alcoólicas.
MC Guimê conta que já recebeu críticas por 'tratar mulheres como objetos' em suas letras (Foto: Isadora Brant/BBC Brasil)
"Para mim, maconha não é droga. Ela é remédio e em vários países é legalizada. Então, a pessoa lá fora está com câncer ou com algum problema de estômago que não permite que ela se alimente direito, ela usa maconha. O cigarro de maconha nunca pode ser mais droga do que um cigarro de tabaco", afirma.
Por outro lado, o músico considera "um absurdo" legalizar o consumo de substâncias como cocaína e ecstasy.
"Isso não tem nem porque legalizar. Só se os boyzão que estão lá no poder e que adoram mandar um 'tirinho' legalizar essa porra. Não pode nem pensar em liberar cocaína e outras drogas químicas, como 'bala', ecstasy, crack. Se você quer ver um resumo do que o crack faz com a pessoa, vai na cracolândia. Você acha que tem que legalizar aquela porra? Tá louco? Vai matar todo mundo".
Guimê diz usar palavrões em suas músicas "só em último caso".
"Quando eu comecei a cantar, eu era mais livre pra isso. Mas quando eu vi que minha responsabilidade era grande, que uma criança me ouve, que minha família quer me escutar, quer ter orgulho de mim, eu falei: 'Vamos tirar os palavrões'".
Por outro lado, ele diz que não pensar em mudar suas letras para transmitir uma mensagem mais politizada para o seu público da periferia.
Guimê diz que não estuda mudar suas letras para transmitir uma mensagem mais politizada para o seu público da periferia (Foto: Isadora Brant/BBC Brasil)
"Não é porque eu tô falando do carrão que eu não vou mudar o país. É aí que a gente se engana porque falando do carrão, eu chego onde ninguém imaginava. Se eu fizer uma música falando de protesto não é o que vai vender. Se a gente for falar de protesto, protesto, protesto, vai vir vários outros aí falando uma pá de baboseira e tomar o lugar de quem tá em alta, que é nóis, a favela, a quebrada".
Ele diz considerar que, mais importante que escrever músicas de protesto, é gerar emprego.
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