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Ariana Grande justifica rótulo de 'Mariah Carey teen dançante' em show para fãs mirins devotos em SP
MÚSICA
Publicado em 02/07/2017

Cantora americana mostrou voz poderosa, mas apresentação às vezes tem tom automático tipo clipe e fica abaixo do potencial.

Por Cauê Muraro, G1

Passei a noite inteira aqui / Passei o dia inteiro aqui / E, garoto, você me deixou andando meio torta." Tem um contraste bastante grande entre o teor dos versos de "Side to side" e o público a que ele se destina - majoritariamente crianças e adolescentes. Porque são eles os maiores fãs (bastante devotos, veja o porquê logo abaixo) de Ariana Grande, que teve no hit um dos principais momentos do show da noite deste sábado (1°) no Allianz Parque, em São Paulo.

De acordo com a organização, foram 27 mil presentes. Muitas - mas muitas mesmo - crianças acompanhadas dos pais, famílias inteiras; havia adolescentes mais velhos e jovens também, mas chamavam menos atenção. E o que todos puderam ver foi isto:

 

  • Uma cantora de voz potente (agudos sem fim: trabalhamos), que justifica o status de "Mariah Carey teen";
  • Uso comedido de efeitos, vozes pré-gravadas e playbacks;
  • Mas potencial mal aproveitado (repertório às vezes repetitivo);
  • Show que parece clipe e até meio automático, previsível, com pouca interação e zero improviso;
  • Mas que melhora consideravelmente no final e faz valer o fanatismo;
  • E, por fim, homenagem discreta mas bonita aos 22 fãs que morreram no atentato que aconteceu na apresentação de Ariana na Inglaterra, em maio.

 

Um exemplo do empenho dos admiradores da cantora americana: em dado momento, cai sobre a plateia uma "chuva" de notas de dinheiro falsas com o rosto de Ariana Grande. Na área mais perto do palco, uma menina de uns 12 anos pisou no pequeno pedaço de papel - e foi derrubada, tipo futebol americano, por outra garota de idade parecida.

 

A primeira acabou batendo a cabeça no chão, ficou sem o brinde e saiu com cara de choro e algumas escoriações. No fim, a nota ficou com um terceiro participante da disputa, um garoto de uns 14 anos.

Mas, no geral, o clima foi família, com pais e mães muito participativos, erguendo os filhos e fotografando. E o que acontecia no palco era, no início, pouco atraente (não que alguém ali esboçasse alguma reclamação...).

Das quatro partes em que o show de Ariana Grande se divide (cada uma com um figurino diferente), as duas primeiras são fracas.

Privilegiam o repertório do disco mais recente, "Dangerous woman" (2016). Tudo muito dançante e discretamente sensual - Ariana está acompanhada de dançarinos, faz coreografias, mas fica cansativo.

Faixas como "Bad decisions" e "Let me love you" agradam, só que nada, nada de acontecer êxtase coletivo entre o povo que usava as mesmas tiaras com orelhinhas que são a marca da artista de 24 anos, ex-estrela adolescente de TV.

A coisa começa a andar justamente antes na terceira parte, de pegada feminista. Ela começa com o telão mostrando as palavras "empoderamento" e "feminino". Vem, então, "Side to side". O clipe mostra uma espécie de aula de spinning provocante com as "alunas" filmadas por trás. A versão ao vivo não chega a tanto, mas Ariana leva, sim, bicicletas ergométricas para o palco e começa cantando enquanto pedala.

 
Assim como no clipe, a versão ao vivo de Assim como no clipe, a versão ao vivo de

Assim como no clipe, a versão ao vivo de "Side to side" tem Ariana Grande pedalando uma bicicleta ergometrica (Foto: Cauê Muraro/G1)

O telão ainda exibe Nicki Minaj, que participa da faixa original (e esse recurso dos duetos se repete ao longo do show, com vozes "do além"). Um ponto positivo: essas vozes extras (dos "parças" e da própria Ariana) ajudam a artista a parecer, ao vivo, melhor do que é, mas serve de complemento, e não só de muleta apelativa para ela sair rodopiando e basicamente desencanar de cantar, como às vezes acontece com outros astros pop.

Alguma enrolação de leve e chegamos finalmente à quarta parte. Começa com a baladona "Moonlight", em que Ariana outra vez pode exibir seus dotes quase atléticos de canto. Na sequência, hits do passado: "Love me harder" e "Break free", as duas do disco "My everything" (2014). Já não era sem tempo: o povo no estádio fica maluco, canta, dança, bate palma, berra etc. Boa, Ariana.

Já ali perto do final, vem o tributo às vítimas de Manchester. O telão mostra o símbolo do luto estilizado, numa montagem em que aparecem as orelhinhas-símbolo de Ariana Grande. Ela canta agora "(Somewhere) Over the rainbow", da trilha de "O mágico de Oz" (1939), conhecida na voz de Judy Garland.

 
Show da Ariana Grande tem tributo às vítimas do atentado de Manchester (Foto: Cauê Muraro/G1)Show da Ariana Grande tem tributo às vítimas do atentado de Manchester (Foto: Cauê Muraro/G1)

Show da Ariana Grande tem tributo às vítimas do atentado de Manchester (Foto: Cauê Muraro/G1)

 

O povo acompanha com reverência o esforço de Ariana e então acontece aquele que talvez tenha sido o único imprevisto de todo o show: a voz da cantora falha de leve, não dá para saber se de emoção ou por causa de algum erro de tempo mesmo. Muita gente acha que a primeira opção é mais provável e aplaude.

E logo a emoção e o luto dão novamente lugar à balada. Vem "Problem", que tem participação da dançante Iggy Azalea. É a hora em que dá para ver mais gente batendo cabelo.

Para fechar, o bis com "Dangerous woman", balada forte em que geral faz coro. Nessa hora, dois garotinhos de não mais que seis anos de idade, em cima dos ombros dos pais, berravam junto a letra: "Algo em você me faz sentir como uma mulher perigosa / Algo em você me faz fazer coisas que eu não faria".

 
Banda da Ariana Grande (Foto: Cauê Muraro/G1)Banda da Ariana Grande (Foto: Cauê Muraro/G1)

Banda da Ariana Grande (Foto: Cauê Muraro/G1)

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