Luiza Borges mostra voz própria nas músicas de 'Certezas inacreditáveis'
14/08/2017 04:11 em MÚSICA

por Mauro Ferreira

 

"Quem não tem a própria voz / Vai imitar alguém / Pra desatar o não e os nós / Ir além / Se não se encontrar a sós / Nunca vai ser ninguém", dispara a cantora carioca Luiza Borges nos versos incisivos de Que nem Japiim, samba dissonante que expõe a identidade vocal da intérprete. De autoria de Thiago Thiago Mello e Edu Kneip, o samba integra o repertório de Certezas inacreditáveis, segundo álbum da artista, recém-lançado pelo selo Embolacha neste segundo semestre de 2017.


O álbum é o registro de estúdio do show também intitulado Certezas inacreditáveis e estreado por Luiza em 2015 na cidade natal do Rio de Janeiro (RJ). O título do disco e do show reproduz o nome da composição de Thiago Thiago Mello e Edu Kneip que abre esse álbum independente cuja edição – inclusive no formato de CD – foi viabilizada por plataforma de financiamento coletivo.


Produzido pelo baixista Tássio Ramos sob direção musical do violonista André Siqueira, o álbum Certezas inacreditáveis chega ao mercado fonográfico cinco anos após o primeiro álbum solo da cantora, Romanceiro (Bolacha Discos, 2012). A força da obra autoral de compositores situados no Rio sobressai no nevoeiro lisérgico que pauta Cinema russo, tema de Thiago Amud imerso na mesma densidade minimalista que pontua Fardo, outra encorpada composição do geralmente inspirado Amud.


Em disco que crê em obras certeiras de compositores sem voz no mercado, Borges registra o fervor de Última chamada do chão (Manduka), a urgência de Um dia só (Renato Frazão e Marcelo Fedrá), a alta maré que revolve Irada (Mauro Aguiar e João Nabuco) e o oportuno questionamento feito no samba A fama e a fome (Mauro Aguiar e Pedro Ivo) com apropriação de verso titânico ("Você tem fome de quê?").


Com sonoridade fora da curva, tal como o anguloso cancioneiro do disco, Certezas inacreditáveis culmina com o revival de Tempo rei, filosófica canção de Gilberto Gil, lançada pela cantora Amelinha em 1984 – meses antes do registro também feito pelo compositor nesse mesmo ano – e rebobinada por Luiza Borges com a marcação bem feita da bateria de Rodolfo Cardoso. Sim, Luiza Borges tem voz própria.


(Crédito da imagem: capa do álbum Certezas inacreditáveis. Luiza Borges em foto de Lucas Bori. Design de Pedro Garcia)

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